Resenha de "Futuros Roubados" (Fernanda Caleffi Barbetta)

Título: Futuros Roubados
Autor: Fernanda Caleffi Barbetta
Editora: Independente
Comprar: Site da Autora

Sinopse: São necessários poucos segundos para que uma atitude leviana seja tomada, para que uma mentira ardilosa seja contada, para que uma transgressão cruel seja ocultada.Mas, as consequências que elas geram duram uma eternidade. Arrasam vidas inteiras, mancham passados, destroem presentes, roubam futuros.
E haja o tempo que houver, não se volta atrás. Porque tempo nenhum desfaz o que já foi feito, conserta o que não tem conserto.



Sou o tipo de leitora que sempre venera o tipo de autor que eu também sou. Que vai atrás e que não deixa esquecida numa gaveta uma história, por mais simples que ela seja. Então quando Fernanda me procurou, numa docilidade e carisma memoráveis, eu nem ousei negar ler o livro dela. Na verdade, acho que teria lido mesmo sem ela ter me solicitado, se tivesse tido acesso a ele de outros modos. E eis o grande problema dos autores independentes... Que outras pessoas saibam que eles existem, e que tem livros muito bons, muitas vezes melhores que os que vem de fora, esperando só por uma oportunidade. 

Futuros Roubados vai contar a história de duas irmãs, Claire e Anne, que apesar de terem crescido unidas, levam uma carga de distanciamento interna muito grande, principalmente de Anne para com Claire. Anne sempre achou que tudo de melhor só acontecia com a irmã, e sem muito esforço por parte dela. Inclusive o amor e a dedicação dos pais.  E ainda que isso não seja suficiente para acabar com a amizade das duas, é sempre colocado em perspectiva quando Anne passa por situações complicadas em sua vida. Como se um pouco da culpa fosse de Claire. Ainda assim, a ama, e não vitimiza sua vida em consequência disso por muito tempo.  

Elas crescem, Anne se forma em arquitetura, Claire vira escritora e se casa com um inglês, indo para longe da irmã. E quando a gente entende que Anne vai ter um momento de se mostrar para o mundo, Claire faz de tudo para conseguir um emprego para o marido de Anne, Eric, no mesmo lugar onde trabalha o marido dela, unindo as irmãs novamente. 

Os quatro vão morar junto, até que Eric e Anne se estabeleçam, e é quando essa descobre que está grávida. Não demora muito a irmã também revela uma gravidez. Então ambas vão sonhando, amando e esperando por seus bebés enquanto a vida segue. 

Quando os bebês nascem, algo acontece na vida das duas que vira tudo de cabeça para baixo. Anne toma decisões difíceis, e que faz mudar completamente a vida de todos ao redor. 

Sabe quando você está lendo um livro e fica toda hora pensando... Não amiga, faz isso não! Ou então... Você usou drogas? Que merda de atitude é essa?! Eu fiquei muitos momentos com essas divagações de leitora. Tive raivas homéricas com as atitudes de alguns personagens em determinadas passagens, e me pegava pensando o que eu faria se estivesse no lugar deles. Sou uma pessoa do bem, mas vamos combinar que as vezes o anjo mau que fica em cima do nosso ombro grita mais forte do que nossa razão. 

É um livro que de início vai fazer você ir e voltar com frequência no tempo. Ver um pouco da vida das meninas pequenas, entender o relacionamento dos pais - principalmente pai - com elas. Ver como foi o começo de namoro de Claire e um pouco da vida de Anne. São passagens necessárias para entender a história e as atitudes tomadas por alguns personagens, mas não é o foco do livro. Isso deixo a cargo das escolhas de Anne depois do nascimento das crianças. 

Toda história tem um grande "up", como diz os críticos. Aquele momento alto que vai te deixar ansioso e curioso por mais. Se você está lendo um livro que não tenha, então fecha e pegue outro, porque isso é básico em se tratando de literatura. No caso de Futuros Roubados, é a tal da decisão. Foi depois desse momento que me vi comendo as unhas e xingando os personagens. Fiquei realmente aflita com aquilo, e acho que porque envolve crianças e esse é meu fraco. Teve uma determinada passagem que até pulei porque não tive estômago de encarar. Vamos confessar, sou uma manteiga derretida. 

Enquanto leitora, acho que eu queria mais. Não da parte cruel, lógico, mas das reações e opiniões dos personagens acerca de determinadas coisas. Acredito que esteja acostumada a livros em primeira pessoa, onde é fácil se entrosar com o personagem e partir do princípio de que ele te entrega a história pela perspectiva própria de como enxerga uma situação. Como não tive essa visão de Anne, por exemplo, não sei o que merda se passou na cabeça da mulher para fazer o que fez, e sustentar o que fez por anos, enfiando uma mentira dentro de outra mentira, e sem aparentar um mínimo que seja de arrependimento. Não sabia se isso era consequência de ter sido rejeitada  a vida inteira, ou simplesmente uma loucura que deu na hora e ela agiu por impulso e se manteve firme por vergonha. Isso para mim foi um problema. Queria ter visto mais dela. Mais de culpa, talvez? As respostas emocionais pelas coisas que ela fez. 

E não digo isso só por Anne, mas por Ryan - o marido de Claire - também. Talvez ele seja o personagem que mais gostei, e ainda assim o vi se comportando eventualmente como um boboca. Graças a Deus que quando ele resolve reagir, vai com força, ou teria perdido a paciência com o cara. 

Apesar de ser um livro fino, ele tem uma história forte que me lembrou muito as novelas antigas das nove. Sabe aquelas que tinham enredos incríveis? Pois é. Senti falta de algumas explicações maiores sobre determinadas coisas, e não sei se isso foi proposital da autora para deixar o leitor pensar o que quiser, ou não. Seja como for, terminei o livro angustiada. Feliz por ter um livro pequeno e de enredo amarradinho, mas angustiada. 

Realmente desejo que a autora não só seja reconhecida por seu trabalho com Futuros Roubados, como que ela escreva mais. E que o próximo livro seja enorme e cheio de reviravoltas, como as que ela colocou aqui. Sou prolixa, e não há como me mudar. HAHA. Prevejo o nome de Fernanda na boca do povo em breve. Seja como autora independente - e Nanda, sei como isso é difícil - ou com uma editora, mas que seja realmente conhecida pelo o que faz. 

Histórias nascem para serem lidas. São fragmentos de vidas de pessoas em universos paralelos (talvez?) que alguém nos conta em sonhos para que sejamos propagadores dessas existências.  

P.s. Gente, a autora me comunicou por email - passou desapercebido por mim na contracapa do livro - que Futuros Roubados é o primeiro de uma duologia. Então isso explica muita coisa, não? Talvez aquelas indagações sobre "o que faltou" na história se resolvam no livro seguinte. Certamente irão se resolver.