Resenha de "Amaldiçoado" (Joe Hill)

Título: Amaldiçoado
Autor: Joe Hill
Editora: Arqueiro (Cedido por parceria)
Comprar: Livraria Saraiva


Sinopse: Amaldiçoado - Ignatius Perrish sempre foi um homem bom. Tinha uma família unida e privilegiada, um irmão que era seu grande companheiro, um amigo inseparável e, muito cedo, conheceu Merrin, o amor de sua vida. Até que uma tragédia põe fim a toda essa felicidade: Merrin é estuprada e morta e ele passa a ser o principal suspeito. Embora não haja evidências que o incriminem, também não há nada que prove sua inocência. Todos na cidade acreditam que ele é um monstro. Um ano depois, Ig acorda de uma bebedeira com uma dor de cabeça infernal e chifres crescendo em suas têmporas. Além disso, descobre algo assustador: ao vê-lo, as pessoas não reagem com espanto e horror, como seria de esperar. Em vez disso, entram numa espécie de transe e revelam seus pecados mais inconfessáveis. Um médico, o padre, seus pais e até sua querida avó, ninguém está imune a Ig. E todos estão contra ele. Porém, a mais dolorosa das confissões é a de seu irmão, que sempre soube quem era o assassino de Merrin, mas não podia contar a verdade. Até agora. Sozinho, sem ter aonde ir ou a quem recorrer, Ig vai descobrir que, quando as pessoas que você ama lhe viram as costas e sua vida se torna um inferno, ser o diabo não é tão mau assim. Joe Hill, autor de A estrada da noite e Nosferatu, já foi aclamado como um dos principais novos nomes da ficção fantástica. Em Amaldiçoado, o sobrenatural é pano de fundo para uma história de amor e tragédia, de traição e vingança. Um livro envolvente, emocionante e cheio de suspense que nos leva a refletir: em matéria de maldade, quem é pior, o homem ou o diabo?

Sempre quis ler algo do Joe Hill. Já queria antes mesmo de saber que o cara era filho do King, e quando soube foi como se uma chuva de caramelos apetitosos caíssem do lado da fora da minha redoma literária. Acabei adiando a leitura porque nos últimos dois anos faço muito isso. Então me agarrei ao fato da Arqueiro ter relançado O Pacto, que era o livro dele que sempre me deixou curiosa, com outro título e com o Daniel na capa. Não gosto de capas de filmes, mas abro uma exceção para essa. O que não abri  mão foi da troca de título. Até agora não entendi a mudança. 

Nesse livro somos apresentados a Ignatius, mas conhecido por Ig, que perdeu a namorada algum tempo atrás na história de forma horrenda. Ela foi estuprada e assassinada depois de um briga feia entre eles, e todo mundo culpou Ig pela morte de Mirren. Ele só se livrou da cadeia durante as investigações porque tinha uma família poderosa. 

Só que um dia ele acorda com uma puta ressaca e com chifres - isso mesmo, chifres! E vamos além disso... Ig acorda com o poder de fazer as pessoas revelarem seus segredos mais obscuros. Seus pecados íntimos e irreveláveis. Desse modo ele passa a encarar os tais chifres como o único modo de descobrir o assassino de Merrin, e se livrar do foço em que se enfiou desde que o seu grande amor morreu. 

Eu não sei se esse foi o primeiro livro escrito por Joe Hill, mas tive a sensação de encontrar alguma imaturidade sutil em sua narrativa dentro dessa história. Como se as vezes ele perdesse o fio da meada do que estava contando. Repito que é algo muito discreto, e não atrapalha o entendimento do que se está lendo, mas possivelmente atrapalha o ritmo. 

O livro é cheio de flashback para contar como Ig conheceu Merrin e seu círculo de amigos e familiares. Momentos importantes, de fato, mas que deixaram o livro um pouco cansativo. Essa coisa de voltar ao passado dentro da narrativa tem que ser muito bem feita ou você acaba perdendo o ápice do que se está lendo. E como esse livro é cheio de voltas ao tal passado, os picos são muito oscilantes e incomodam um pouco. Mas de fato a questão de ritmo é a única coisa que tenho do que reclamar na história. 

A base filosófica em que o autor cria a trama é sensacional. Ele trabalha a bestialidade que existe dentro de cada um de uma maneira que você faz a ligação com o real, mesmo que tenha um cara de chifres como protagonista no livro. É aquela coisa de você pensar no que seria capaz de dizer ou fazer se não existissem condutas sociais a serem seguidas. Saca os sete pecados capitais? Foi lendo esse livro que percebi que eles nada mais são do que a base biológica dos seres humanos, mas que com o convívio social foi podado das pessoas. Isso é bom? Sim, lógico. Mas não podemos esquecer de quem somos no íntimo, e Amaldiçoados te entrega essa ideia de bandeja. 

O autor bebeu de questões teológicas controversas para destrinchar sua história. Os personagens são muito bem trabalhados, o que torna o livro acessível ao nosso emocional. E quando o autor coloca embates religiosos dentro da narrativa com essas pessoas que parecem de verdade, você meio que se sente ao lado delas discutindo os mesmos temas que são comuns e paradoxais a nossa raça humana até hoje. Quando as pessoas dizem que religião e política não se discutem, é porque jamais vai existir um lado totalmente certo sobre o que se falar. São duas linhas importantes do desenvolvimento das pessoas como pertencentes a uma sociedade, portanto cada um tem um determinado ponto de vista para seguir em relação a essas palavras curtas e com tantos significados. 

Joe Hill tem sacadas incríveis com esse livro. Ig é um condutor do certo e errado das pessoas ao redor dele. Um observador dos erros e acertos, e por isso temos uma sensação de que mesmo presente ele é onisciente. Como se fosse um anjo, ou realmente um demônio. O crescimento dele juntamente com a loucura dentro da trama nos faz questionar até que ponto é socialmente errado alguma coisa, mesmo que ela pareça tão certa dentro de cada um. É a dualidade do ser humano em sua forma mais primitiva. Como diz minha avó... Até o demônio um dia foi anjo. Claro que isso é uma questão de percepção religiosa. Não sou católica e não acredito em demônios com chifres e inferno de larvas, mas acredito que céu e inferno convivam dentro de cada um e que sejamos tentados por ambos o dia inteiro. Saca o lance dos desenhos onde tem um demônio em um ombro e um anjo em outro? É basicamente isso o que penso, só que sem tanta alegoria. 

Quando se tira os problemas de questões narrativas do autor, você entende as outras tantas filosóficas. É um bom livro para debate em colégios, por exemplo. São livros como Amaldiçoado que nos coloca para pensar, e sempre tiramos uma reflexão de dentro dele. 

Se eu fosse dar nota pela dialética que o autor tem com o leitor das ideias dele, então esse livro merecia até mais do que cinco estrelas. Mas estou aqui para falar de um livro como um todo, e ele pecou para mim em coisas pequenas e quase insignificantes, que acredito que tenha sido por pura imaturidade de escrita. 

Recomendo muito a leitura dele. Aguentem firme os ápices de ritmo e tentem visualizar a coisa da filosofia e teologia dentro do livro. Aposto que vocês terminarão pensando justamente no que é certo ou errado. 


Resenha de "Da minha terra à Terra" (Sebastião Salgado)

Título: Da minha terra à Terra
Autor:Sebastião Salgado
Editora: Paralela
Comprar: Livraria Saraiva

Sinopse: SEBASTIÃO SALGADO - As fotos de Sebastião Salgado são famosas no mundo inteiro. Suas imagens em preto e branco de trabalhadores e refugiados já ganharam inúmeros prêmios e são reconhecidas pela profunda dignidade que despertam no interlocutor. Em 2013, depois de oito anos de reportagens, Salgado expôs pela primeira vez o celebrado Projeto Gênesis, que deu origem ao livro de mesmo nome. Em uma jornada fotográfica por lugares intocados, onde o homem convive em harmonia com a natureza, o fotógrafo pôde declarar seu amor à Terra, em sua grandeza e fragilidade. Mas apesar das imagens de Sebastião Salgado já terem dado a volta ao mundo, sua história pessoal, as raízes políticas, éticas e existenciais de seu engajamento fotográfico permaneciam ignoradas. Em 'Da minha terra à Terra', é seu talento como narrador que surpreende. A autenticidade de um homem que sabe como poucos combinar militância, profissionalismo, talento e generosidade.



Resenha de "Um lugar chamado Liberdade" (Ken Follet)

Título: Um lugar chamado Liberdade
Autor: Ken Follet 
Editora: Arqueiro (Cedido por parceria)
Comprar: Livraria Saraiva

Sinopse: Um Lugar Chamado Liberdade - Escócia, 1766. Condenado à miséria e à escravidão nas brutais minas de carvão, Mack McAsh inveja os homens livres, mas nunca teve esperança de ser como eles. Até que um dia ele recebe a carta de um advogado londrino que lhe revela a ilegalidade da escravidão dos mineiros e um novo horizonte se abre aos seus olhos. Porém, para realizar seu sonho, Mack precisará enfrentar todo tipo de opressão das autoridades que não estão acostumadas a serem questionadas.Já na idealizada Londres, ele reencontra uma amiga de infância, Lizzie Hallim, agora casada com Jay Jamisson, membro da família que tanto o atormentara na Escócia. Lizzie não se conforma em viver submetida aos caprichos dos homens e constantemente escandaliza a sociedade com seu comportamento e suas ideias não convencionais. Quando Mack é acusado injustamente de um crime, ela quebra protocolos e sai em sua defesa, mas o amigo é deportado para a América.
Mack logo descobre que se trata de uma mera mudança de continente, não de ares sociais, pois a colônia também vive momentos de tensão: se na Inglaterra os trabalhadores não desejam mais ser explorados pela elite, ali os colonos preparam o caminho que os levará à independência do jugo inglês.Nesta saga repleta de suspense e paixão, Ken Follett delineia uma época de revoltas contra a injustiça com uma escrita enérgica e sedutora.

A primeira vez em que alguém me indicou um livro do Follet foi o da trilogia O Século. Claro que de início o tamanho do volume assustou, mas resolvi criar coragem para tê-lo na estante porque esse meu amigo que me indicou tem um gosto muito bom para livros. Tudo bem, tive Queda de Gigantes por algum tempo aqui parado, esperando minha coragem de começar a ler, mas ela não apareceu. Só que a Arqueiro é uma linda e teve a incrível previsão de que eu não conseguiria começar a ler Follet por um livro daquele tamanho, e me presenteou com o lançamento do maravilhoso Um Lugar Chamado Liberdade, que se tornou um dos meus livros prediletos da vida. 

O livro começa narrando um ponto de vista muito para frente do tempo onde a história principal é contada. Um cara achando algumas velharias enterradas no quintal da nova casa. É só um pequeno prólogo, mas dá uma ideia do que esperar do livro. Disso pulamos para conhecer Mack, um minerador que vive em uma das grandes fazendas de carvão na Escócia. Logo de início ficamos sabendo como são as coisas nesse lugar, e o que os mineradores passam para conseguir ao menos a comida do mês. É um regime de escravidão, mesmo que eles recebam por isso. Na verdade soa como um falso trabalho remunerado. 

Mack acaba descobrindo um certo dado importante sobre a questão da escravidão no país através de um advogado, e pretende contar para todos na mina. Com isso tem a intenção de tornar seus companheiros conhecedores dos seus deveres e direitos, e ter a liberdade que tanto planejava para si e a irmã. Só que Mack começa a mexer com coisas que não deve e pessoas importantes, e isso passa a se tornar um jogo de poderes maiores do que ele, mas não maiores do que o povo junto. 

De outro lado temos Lizzie, uma filha de donos de fazenda que está prestes a falir, e vê no casamento com um Jamisson uma chance de garantir que sua fazenda fique na família, e não seja cobrada como pagamento das dívidas. Jay Jamisson só quer o que lhe é de direito e o que o pai o nega. Por isso resolve se casar com Lizzie na intenção de cutucar uma ferida do velho, que são as fazendas dela. 

Contudo os caminhos de Mack e Lizzie estão sempre indo para o mesmo lugar, e a busca por liberdade passa a ser para ambos uma prioridade de vida. 

Eu fiquei completamente impressionada com o fato de Follet ser tão bom historiador quanto narrador ficcional. Ele inclui fatos importantes sobre a história da Escócia, Inglaterra e os Estados Unidos na época de colonização sem ser forçado. É natural o caminho para onde o enredo te conduz e te enche desses dados que certamente vão fazer você entender melhor como funcionavam as coisas. Penso que se escolas adotassem esse tipo de meio condutivo histórico para chegar até os alunos, as aulas seriam muito mais interativas. Eu certamente terminei de ler entendendo melhor sobre todo esse processo de colonização da América e escravidão branca na Escócia. Eu nem sabia que isso existia por lá na época! 

Os dois protagonistas, que acabam sendo três porque vemos muito do ponto de vista de Jay também, são incríveis! Mack é de longe um dos meus mocinhos prediletos na literatura. O filho da mãe tinha um condutor para problemas fantástico. Em cada canto onde Mack chegasse acaba se tornando uma espécie de líder do povo, justamente por conta da sua língua ferina e inquieta. Ele não sabia ficar calado para a injustiças, e realmente era muito com em conduzir levantes e greves. O tipo de pessoa que você respeita só em ver passar, e era apenas um jovem recém saído da adolescência. 

Lizzie também é uma moça admirável. Atira como nenhum homem, anda a cavalo como nenhuma dama e se comporta como nenhuma pessoa jamais vai se comportar em um livro. Ela tem a delicadeza de uma mulher doce, mas é capaz de se vestir de homem só para assistir as brigas clandestinas nos bares, ou ir a um enforcamento em praça pública na intenção de ver como são as coisas pelos olhos dos homens. É impulsiva e determinada, e tem um apreço enorme pela justiça. 

Jay no meu ver, apesar do viés de vilão, é muito mais vítima do descaso familiar do que um cara que acordou e resolveu botar para lascar com o mundo. Ele foi criado de uma forma e é bem difícil alguém conseguir sair ileso de algumas coisas. Claro que nós somos responsáveis pelos nossos atos! A visão de certo e errado é comum a praticamente qualquer ser humano. Mas o social influencia muito desse coisa do que se pode ou se deve fazer. Não vi um homem agindo por maldade, por mais idiota que fosse. Vi um homem agindo para provar que podia, e isso era tudo o que ele queria desde o princípio. 

O desenrolar da história é rápido e te prende absurdamente. Nas poucas páginas do livro o autor conseguiu inserir temas sensacionais e trabalhar na medida certa para não ficar cansativo. E nós passeamos entre vários países e levantes trabalhistas só para entender como esse sistema era nojento e desumano. As pessoas costumam dizer que o mundo está pior hoje em dia, e eu meio que discordo. Acho que o mundo sempre esteve ruim, só que naquela época não tínhamos TV para documentar e propagar isso. 

Aquelas pessoas trabalhavam de sol a sol. Crianças, velhos e mulheres carregando peso material e emocional em suas vidas para apenas sobreviver às custas de poderosos que não queriam saber se era justo ou não o que eles faziam. Enforcamentos como diversão, pessoas acorrentadas... Isso é tão ultrajante na minha cabeça que não consigo criar uma imagem fixa de algo assim acontecendo. E Follet soube trabalhar essas nuances delicadas de uma forma que te faz sentir o que ele queria que sentíssemos naquele momento. 

É uma história sobre liberdade nas suas mais variadas formas. Jay queria a liberdade de não sentir necessidade de provar ao pai que ele era tão seu filho quanto o irmão. Mack queria garantir que seu povo tivesse justiça em relação ao trabalho e meios de sobrevivência. Lizzie queria liberdade para fazer o que quisesse sem precisar de um marido para isso. Três pessoas em condições financeiras diferentes, mas que no final das contas queriam a mesma coisa. 

O autor deixa com esse livro a mensagem de que a liberdade nem sempre tem a ver com dinheiro. As vezes quem é rico é tão preso quanto muitos pobres. É uma questão de perspectiva, e que no final das contas nos mostra que todos queremos as mesmas coisas e lutamos pelo mesmo objetivo: Sermos livres.  




Resenha de "As estranhas e belas mágoas de Ava Lavender" (Leslye Walton)

Título: As Estranhas e Belas Mágoas de Ava Lavender
Autor: Leslye Walton
Editora: Novo Conceito (Cedido por parceria)
Comprar: Livraria Saraiva

Sinopse: As estranhas e belas mágoas de Ava Lavender - Gerações da família Roux aprenderam essa lição da maneira mais difícil. Os amores tolos parecem, de fato, ser transmitidos por herança aos membros da família, o que determina um destino ameaçador para os descendentes mais jovens: os gêmeos Ava e Henry Lavender. Henry passou boa parte de sua mocidade sem falar, enquanto Ava que em todos os outros aspectos parece ser uma jovem normal nasceu com asas de pássaro. Tentando compreender sua constituição tão peculiar e, ao mesmo tempo, desejando ardentemente se adaptar aos seus pares, a jovem Ava, aos 16 anos, decide revolver o passado de sua família e se aventura em um mundo muito maior, despreparada para o que ela iria descobrir e ingênua diante dos motivos distorcidos das demais pessoas. Pessoas como Nathaniel Sorrows, que confunde Ava com um anjo e cuja obsessão por ela cresce mais e mais até a noite da celebração do solstício de verão. Nessa noite, os céus se abrem, a chuva e as penas enchem o ar, enquanto a jornada de Ava e a saga de sua família caminham para um desenlace sombrio e emocionante.

Quando Ava Lavender chegou aqui em casa a única coisa dele que eu sabia era que a capa era lindíssima e que não entendia muito bem o que a sinopse queria dizer. Metatexto? Sentido literal da coisa? Eu não sabia, mas estava muito curiosa para descobrir. E quando eu finalmente consegui pôr nas minhas leituras da maratona, fiquei imensamente grata por tê-lo escolhido. Foram algumas horas muito prazerosas e viciantes ao lado da família de Ava. 

O que posso dizer do enredo é que o livro vai trazer a história de algumas gerações dessa família; de algumas mulheres da família. E apesar de parecer longo quando me refiro a gerações, não tem nada disso. O livro é fino, mas a autora conseguiu pôr vida e longevidade em cada página curta da sua história. Eu realmente me senti atravessando a vida de todas essas mulheres como se estivesse passando pelos problemas com elas, e não lendo um livro. É intenso e te prende de uma forma cativante e amorosa. Não desgrudei do livro até chegar ao final dele. 

Contudo Ava não é livro que agradará todos os públicos. É uma realismo fantástico, tipo o filme Peixe Grande, e as vezes você não sabe se está lendo o real da coisa ou se é apenas uma interpretação lírica para ela. Ava Lavender tem asas de fato ou isso é só um nome que abre espaço num sub texto muito maior sobre liberdade? A bisavó dela realmente foi sumindo aos poucos ou é apenas uma forma de dizer que a mulher era tão sofrida que o tempo a apagou? 

O livro é cheio de histórias desse tipo: Menina com asas, pessoas literalmente sumindo, outras virando pássaro. É tanto coisa irreal que as vezes você se sente meio enganado sobre o que está lendo. Pessoalmente achei genial porque ela trabalha com as personalidades de cada personagem usando algo do fantástico, e isso transmite o emocional de cada um. É como se usasse da magia para explicar os sentimentos de liberdade ou raiva que temos. A autora é uma poeta escrevendo em prosa. Ela usa de metalinguagem o tempo inteiro durante a narrativa e no meu ver não ficou cansativo. Muito pelo contrário, ficou estupendo. 

Apesar do nome do livro se referir especificamente a Ava, ela é só um ponto pequeno quase no final do enredo. Pessoalmente me senti mais apegada a história da mãe dela do que dela. Sabemos que fomos preparados desde o inicio do livro para o momento em que Ava apareceria, mas tem tanta coisa e tanto personagem incrível de fundo que não dá para simplesmente torcer só por Ava. 

O final é um dos mais bem escritos que já li na vida. Me lembrou muito filmes onde o crescente psicológico dos personagens levavam a uma tensão final emocionante. Sabe aquele clima do final do filme Beleza Americana? Pois é, foi justamente daquela forma que me senti. Apesar do livro não ter viés de roteiro, ele tem a magia e inteligência de um. Assistindo Birdman nos últimos meses, me dei conta de Ava Lavender ganharia fácil um prêmio de roteiro, de tão genial que a história é, e  tão bem feito o caminho que a conduz até o fim. 

Não é um livro para todo mundo. Certamente algumas pessoas terminarão de ler com a ideia de que nada foi acrescentado em suas vidas depois dele. Bom, na minha acrescentou muito. Como escritora, como leitora, como blogueira, mãe e uma infinidade de coisas que são realistas e fantásticas dentro de mim, mas que as vezes não tenho coragem de pôr para fora. 

Um livro meio louco? Talvez. Com personagens complicados demais? Certamente. Mas e a merda das nossas vidas também não são assim? Cheias de momentos malucos e pessoas estranhas. Não tem nada demais em querer incluir um pouco de mágica na mesmice de viver. Foi nisso que Ava me cativou. Pegou coisas banais e me devolveu uma capacidade de enxergar poesia até na nos momentos porcarias da vida. 

Um livro lindo, mas é preciso ter cabeça aberta para se adaptar a realidade existente nele. Um dos meus prediletos desse ano sem sombra de dúvidas. 


Apostas do Oscar 2015


Olá, pessoal!
Hoje é dia vinte e um de fevereiro, véspera da maior premiação do cinema americano.
Eu que sou uma completa viciada por cinema e por essa entrega em específico, faço todos os anos as minhas apostas, desde a primeira vez em que o O Senhor dos Anéis entrou na lista da premiação.
Acho que isso acaba fazendo com que eu tenha uma espécie de termômetro cinematográfico. E lógico que sei que esse prêmio é muito mais político do que real. Prova disso é que todos os anos se cometem injustiças acerca do Oscar. Atores e diretores que fizeram trabalhos incríveis e que foram rejeitados na lista final. Por isso não, não uso a lista final deles como regra única dos filmes bons lançados no ano, mas a tenho como um guia para se começar, e seguir mais profundamente a partir de então.

Esse ano eu acabei fazendo minhas apostas junto com o Gabriel do Eu vivo Lendo, que é tão fanático pelo Oscar quanto eu. E foi uma experiência interessante porque sempre comentávamos um com o outro quando assistíamos um determinado filme, e isso gerou uma ligação para cinema que eu não costumo ter com ninguém. Eu sempre via o prêmio isolada e torcia ou ficava com raiva sozinha. Esse ano terei ele para discutirmos a entrega. Concordamos em algumas coisas e em outras descordamos um pouco, e essa é a parte boa de ter alguém para dividir as opiniões.

Mas deixar de conversa e falar logo sobre minhas apostas. Como no ano passado, colocarei o que eu acho que vá levar na categoria, e o que eu queria que ganhasse. Porque meu coração é quase sempre do contra, #SouDessas mas a minha lógica ganha dele.

Melhor Filme



Breve Comentário: Esse é um dos exemplos onde meu coração pertencia a um e minha lógica a outro. Benedict Cumberbatch me vendeu O Jogo da Imitação de uma forma majestosa. E aqui também cito o maravilhoso Whiplash, que foi o segundo escolhido pelo meu emocional.
Mas eu tenho que seguir a lógica da academia, e acredito de coração que eles estão entre Birdman e Boyhood. O primeiro pela genialidade e diferencial de enredo e o segundo por ser um projeto simples, inovador e que anda levando a maioria dos prêmios por ai.


Melhor Diretor



Breve Comentário: Não tem para onde. Você começar a dirigir um filme em total segredo e continuar nesse segredo por doze anos e ainda conseguir fazer um trabalho incrível para fazer os atores segurarem os papéis por tanto tempo? Mesmo que não tenha amado o filme, o diretor de Boyhood merece todo o mérito. Ele fez o que ninguém fez no cinema até então, e jogarei meu ouro para ele.


Melhor Ator



Breve Comentário: Engraçado é que cada ator desses me ganhou por motivos diferentes esse ano. Por exemplo... jamais achei que Steve Carrel fosse me convencer tanto com um papel como o fez em Foxcatcher. Ele está soberbo! E Então vem Keaton e me entrega uma atuação tão poderosa que por alguns instantes me perguntei se era de fato Keaton atuando. E vem meu amado Benedict, com uma doçura e inteligência que beirava a ignorância, mas que era só a característica do personagem. Ele tem meu coração por completo em tudo o que faz, e não foi diferente nesse papel. E Então temos Cooper, um dos queridinhos atuais do cinema e não é para menos. No papel de um herói de guerra e mostrando a loucura que ser um herói de guerra causa em uma pessoa. Mas como competir com a mudança física de Eddie? Não dá!
A Academia ano passado premiou um ator pela combinação de boa interpretação com doação física, e não acho que esse ano vão fazer diferente. Eddie MERECE esse prêmio!


Melhor Atriz



Breve Comentário: De verdade? Não tenho o que comentar sobre isso aqui. Não vi nenhuma atuação que me deixasse babando com as mulheres desse ano. São papéis completamente diferentes, e estou apostando na Moore por conta da loucura da personagem, e a academia gosta desse tipo de papel.
Curti muito Reese e Felicity, mas como disse, são papéis bons, não fabulosos.


Melhor Ator Coadjuvante



Breve Comentário: Apesar de ter babado com Norton em Birdman - Sério, o homem é a alma do filme - ninguém, repito, NINGUÉM estava tão foda quanto J. K. Simmons. Eu seria ilógica se não torcesse por ele, e a academia seria ilógica se não o premiasse. O cara saiu de papéis fracos e vozes em desenhos animados para me dar uma atuação FODA dessas! Pelo amor de Deus, é JK e pronto!


Melhor Atriz Coadjuvante



Breve Comentário: Novamente não tive muito o que pensar porque não tinha opção que realmente valesse a pena. Atrizes boas com papéis bons, mas nada magnífico. Arquette vai ganhar porque as demais tem menos participação nos filmes, mas dizer que ela estava fantástica é exagero.
Pessoalmente se fosse para apostar na simplicidade, então eu apostaria na da Laura Dern porque essa mulher respira talento. Mas só por isso.


Melhor Filme Estrangeiro



Breve Comentário: Ida esta levando quase todos os prêmios por ai a fora. É um filme preto e branco e a academia adora esse tipo de película. É tanto que ele também concorre na categoria de fotografia. Então mesmo que eles não possam premiar o filme na outra categoria por conta de outros tantos fabulosos, acredito que vão fazer por Ida aqui.


Melhor Roteiro Original



Breve Comentário: Todos esses roteiros tem a sua sensibilidade apaixonante. Eu sou fã do roteiro de Grande Hotel Budapeste, mas para mim não existe mais genial nessa categoria do que o roteiro incrível de Birdman. O danado do filme é extremamente inteligente e com uma linha peculiar e única na história. Fazia tempo que não via nada igual. Talvez em Brilho Eterno de uma mente sem lembranças e Peixe Grande.


Melhor Roteiro Adaptado



Breve Comentário: A Teoria de Tudo e Sniper Americano são os dois queridinhos nessa categoria. Mas eu sou sempre do contra, e estou segura que O Jogo da Imitação tem muita chances nessa porque não vai ter mais em nenhuma outra, e eles não vão deixar de premiar um filme sobre um aclamado personagem americano.


Melhor Fotografia



Breve Comentário: Essa é minha categoria predileta e, portanto, aquela que mais me cobro em analisar. Esse ano eu tenho dois prediletos, que é o Grande Hotel Budapeste e todo o seu cenário colorido e estranho e Birdman, com os melhores planos sequências que já vi em anos. Ida tem a beleza do preto e branco, Invencível o cenário de tirar o fôlego e Sr. Turner tem a luz plasticamente bela das obras de arte. Mas eu voto no plano sequencial porque é uma das minhas paixões no cinema, e a academia tende a gostar muito dela.


Melhor Edição



Breve comentário: Temos grandes trabalhos de edição esse ano. Cada um com seu propósito de atingir emocionalmente quem assiste em momentos diferentes e causando sensações diversas. Meu trabalho predileto é o de Whiplash, pela mistura de música, emoção e cortes estupendos. Mas acredito que os doze anos que se transformaram três horas de Boyhood vá levar esse prêmio, e até que acho justo.


Melhor Design de Produção



Breve comentário: Não tem nem o que comentar. O desenho mais bonito é o de Grande Hotel e fim de papo.


Melhor Efeitos Visuais



Breve comentário: Esse aqui está difícil, heim! Pessoalmente sou apaixonada pelos efeitos de uma cena em específico de X-Men (Mercúrio <3), e adoro o visual de filmes espaciais. Mas meu coração aqui é de Guardiões e suas passagens memoráveis. Contudo acredito que a academia adora os efeitos de Planeta dos Macacos por conta da captura de ação dos personagens, que é em cima de seres humanos.


Melhor Figurino



Breve Comentário: Pessoalmente eu achei um arraso o figurino de Caminhos da Floresta. Contudo é um tipo de figurino meio bagunçado, sem ligação entre época e conteúdo. Talvez a academia aposte nisso, mas acho provável que o prêmio fiquei com O Grande Hotel Budapeste porque também é trabalho de gênio, e o filme tende a levar muitos dos prêmios técnicos.


Melhor Maquiagem e Cabelo



Breve Comentário: Na verdade nesse aqui estou bem em dívida porque adoro ambos os trabalhos que escolhi na tabela. O de Grande Hotel é bem peculiar, e a academia gosta disso. Já o de Guardiões é clássico em filmes de ficção, e claro que mais do mesmo, mas muito bom também. 


Melhor Trilha Sonora



Breve Comentário: Eu AMO a trilha de O Grande Hotel Budapeste! Mas depois de ter lido muito sobre críticos falando das trilhas desse ano, e escutando tudo o que pude delas, eu acabei apostando na de A Teoria de Tudo. A de Interestelar também é divina, até porque Zimmer está assinando e ele é sem comentários. Mas vou ficar com A Teoria porque ela conseguiu me ajudar a atingir o clima necessário das cenas na medida certa.


Melhor Canção



Breve Comentário: Outra categoria que achei bem fraca esse ano. Fraca no nível máximo!
Minha predileta é a Lost Stars, mas ela é bem mais pop do que música de Oscar. Vou apostar em Glory por ser a mais emocionante e por achar que Selma mereça levar algo nessa premiação.


Melhor edição de som



Breve Comentário: Filmes de guerra e espaciais sempre levam esse tipo de categoria. Então aqui temos dois concorrentes fortíssimos. Apesar disso todos os críticos estão prestigiando também o som maravilhosamente bem editado de Birdman, e devo concordar que eles tem razão. Não é todo mundo que trabalha com som em planos sequenciais e ambientes fechados tão bem quanto eles fizeram. Apesar disso vou apostar em Sniper por ser de guerra, e por achar que Sniper anda sem chances esse ano, o que é inconcebível para a academia por ser tratar de um filme de guerra AMERICANO!


Melhor Mixagem de som



Breve Comentário: Tudo bem que as categorias de som são essencialmente de filmes de guerra e espaciais, mas não posso menosprezar Whiplash nessa em específico. Como dizem alguns críticos, a mixagem de som de Whiplash é quase como se fosse um personagem a mais na cena. Ela respira verdadeiramente de tão bem feita. Então estou indo nela de coração e de lógica.


Melhor Animação



Breve comentário: Meu coração é todo de Operação Big Hero esse ano. Ele tem um roteiro lindo demais e envolve elementos totalmente inovadores no quesito: Filmes para criança. Trabalha a morte de maneira a ajudar crianças a reconstruírem seu mundo onírico, e me ganhou por isso. Mas a academia adora a vibe de Como Treinar seu Dragão, então estou apostando nele.


Melhor Documentário



Breve Comentário: Não vi todos, mas conheço um pedaço de todas as histórias. Meu amor é de O Sal da Terra porque Sebastião Salgado é meu ídolo da contemporaneidade. Mas a crítica está falando absurdamente bem de CitizenFour, e aqui vem aquele velho patriotismo pelo filme falar de algo importante para os americanos. Portanto voto nele.


Melhor Documentário em curta-metragem



Breve Comentário: Novamente vou pelo voto da crítica, que é no Crisis Hotline. Um filme que fala de uma central de atendimento para pessoas que vieram da guerra. Mas eu amei o Our Curse, que fala de um casal de pais com um filho que tem uma doença onde a criança só dorme se for ligada em aparelhos. O próprio pai do bebê filmou o curta, e ganhou todo o meu amor por isso.


Melhor animação em curta-metragem



Breve Comentário: Ai, gente, vocês já viram o Feast? Se tivessem visto não teriam nem o que pensar. Linda animação!


Melhor curta-metragem em live-action



Breve Comentário: Novamente indo pela crítica porque não vi nenhum desses curtas.


Então é isso, pessoal. Vocês fizeram as suas apostas? Não? Ainda dá tempo!
Estarei no Facebook, no Twitter e no Instagram durante a entrega informando os vencedores. 
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