Resenha de "A Filha do Sangue" (Anne Bishop)

"Finalmente uma fantasia decente!"

Sinopse: O Reino Distorcido se prepara para o cumprimento de uma antiga profecia: a chegada de uma nova Rainha, a Feiticeira que tem mais poder que o próprio Senhor do Inferno. Mas ela ainda é jovem, e por isso pode ser influencida e corrompida. Quem a controlar terá domínio sobre o mundo. Três homens poderosos, inimigos viscerais - sabem disso. Saetan, Lucivar e Daemon logo percebem o poder que se esconde por trás dos olhos azuis daquela menina inocente. Assim começa um jogo cruel, de política e intriga, magia e traição, no qual as armas são o ódio e o amor. E cujo preço pode ser terrível e inimaginável.



E com grande alegria - e alívio - que digo que dessa vez, eu acertei na fantasia. 
Já tinha lido muito como Anne Bishop era boa escrevendo o gênero, mas jamais havia chegado perto de qualquer livro dela. Pense no tamanho da minha loucura quando terminei A Filha do Sangue e comecei a fazer uma dancinha alegre em casa. Não é nenhum Tolkien, mas realmente o livro é bom. 

Bem, explicar esse livro para vocês vai ser bem difícil para mim, já que a quantidade de informações não convencionais nele é grande. Nomes de lugares, pessoas, e ainda o lance do Sangue e das Joias. Talvez eu não consiga explicar metade do que preciso, mas vou tentar ser o mais simples possível. 

Pense em um mundo onde as mulheres são rainhas, feiticeiras e toda a voz de poder da sociedade. Os homens se curvam a elas, e os que poderiam tomar o poder, ou seja, os mais poderosos, tendem a se tornarem escravos sexuais para servi-las quando as loucas precisarem. 

Os Sangue tem um lance meio complicado com essas Joias. Quanto mais escura for sua Joia, mas poder você tem. Cada pessoa pode ter duas: Uma logo cedo, que é a Direito de Progenitura, e outra que pode ser evoluída na cor até três vezes. Parece confuso? Eu achei extremamente confuso quando estava lendo. Era comum ler algo do tipo... "Fulano tem uma cinza de Direito de Progenitura, e uma vermelha". WTF? Demorei sim um pouco para me ambientar no espaço físico que a autora criou - e aqui eu acho que todo livro de fantasia deveria vir acompanhado de um mapa - e nesse lance das Joias, que foi desesperador de início, mas depois ficou fácil. 

É nesse lugar louco comandado por mulheres tirânicas, que surge uma profecia. A RAINHA está para chegar. E realmente ela chega, só que na figura de uma menina inteligente e maravilhosa de doze anos, com um poder maior do que já se viu em qualquer outra pessoa. 

Claro que muita gente quer prejudicar a garota! Ela está chegando para tomar o que é dela, e a coitada nem consegue usar a Arte simples - os poderes - direito. E é por isso que ela precisa de proteção. E ai entra os três machos mais imponentes e loucos que já vi em livros de fantasia: Saetan, e seus dois filhos, Lucivar e Daemon. Os filhos são escravos sexuais de grandes rainhas. Eles vão se encarregar de ensinar e proteger Jaenelle até que ela tenha idade para tomar o lugar de Rainha. 

O que posso dizer da escrita da Anne que possa ser suficiente? Que ela é cruel, sanguinária e que não poupa situações, mesmo que elas choquem? Que os homens mais sombrios e sensuais são os protagonistas que deveriam ser os mocinhos, mas que de mocinhos não tem nada? Que coisas como pedofilia,  estupro, assassinato a sangue frio e prostituição são tratadas por ela de maneira densa e perfeita? Isso é pouco. Isso é bem pouco. 

A mulher tem uma narrativa pesada e com acontecimentos tão pesados quanto a mão que as escreve. Teve momento que eu fechei o livro porque meu estômago não aguentou, e olhe que o negócio aqui é coisa de lordes. Nada de batalhas sangrentas! Mas as cenas de lordes tem uma maldade sutil e poderosa. Terminei de ler achando que Anne Bishop não é para muitos. 

Daemon foi de longe meu personagem predileto. 
Chamam ele de sádico - e por ai você tira como o negócio é sério. Mas ele também é um homem quebrado, com poderes tremendos, e desesperado para se livrar da sua escravidão. Tem uma família, mas as rainhas poderosas tiraram até isso dele, naquela coisa de achar que Daemon junto da família só iria deixa-los mais fortes, já que são três poderosos machos. 

E quando a gente acha que só vai ver maldade no cara, eis que ele conhece Jaenelle, e se encanta completamente pela garota. Eles tem uma relação que chega a ser paternal, com ela perguntando muito, impondo muito, e ele sendo flexível e risonho - coisas que Daemon não faz. E nesse ponto pode ser que a história choque mais ainda, já que Daemon se vê atraído pela garotinha de doze anos, mesmo ele tendo muitos séculos

Eu pessoalmente não choquei com isso, até porque Daemon, apesar de sentir, não força situação alguma com ela. Apenas sabe que sente. Ele escolhe esperar os anos passarem. Além de que, todo mundo sabe que na idade média coisas como homens se apaixonando e casando com garotinhas era bem comum. A relação deles é linda e sem crueldade. Não tenho porque me incomodar com nada do que vi ai, mas vi muita gente incomodada. Mas se levarmos em consideração que eu sou dificilmente impressionável quando se trata de psicologia humana, então estou no lucro.

O livro é narrado por várias pessoas. Dos três machos, até as rainhas vilãs, passando por Surreal e outros personagens menores no meio, mas nunca por Jaenelle. As pessoas contam sobre ela, mas não sabemos exatamente o que ela pensa sobre nada. Mistério. Eu sempre preferia ler pelo ponto de Daemon. Fala sério, o cara é sombrio ao extremo, e essa coisa de anti herói dele é o máximo!

Sei que ultimamente não ando alegre com as fantasias que tenho lido, mas essa realmente me tirou do chão. Então eu indico de verdade, mesmo que tenha voltado e lido algumas coisas várias vezes, já que é difícil pegar o tranco dos "nomes" nesse livro. Se vocês gostarem de fantasias e andam tristes com elas, como eu, tenta essa!