Projeto Lavoura Arcaica



Olá pessoal!
É um sábado maravilhoso aqui na minha cidade, e resolvi colocar uma postagem no ar. 
Hoje em vim com uma postagem sobre fotos e livros. Estou fazendo um trabalho na faculdade sobre atividades culturais e como tarefa, tínhamos que montar três tipos diferentes de atividades. Como trabalho com fotografia, resolvi fazer algo relacionado. Não foi difícil descobrir o que fazer, o problema era...sobre qual livro fazer! 
Eu tenho um projeto já antigo que mistura a literatura e a representação pessoal e fotográfica dela, olha o link do primeiro. Até hoje eu só coloquei sobre um livro, já marquei fazer vários, mas acabou nunca saindo. Dessa vez por uma necessidade, resolvi voltar a fazer. 
A problemática foi escolher o livro. De início pensei em trabalhar com poemas do Rilke, depois com contos do Veríssimo e por fim, acabei ouvindo uma trilha sonora e minha cabeça se abriu para esse livro incrível que adoro: Lavoura Arcaica do escritor Raduan Nassar. 
Juntamente com um amigo, que também é fotógrafo, pensamos em locações, figurinos e luzes para fazer o trabalho como nossa releitura, nosso ponto de vista. Contamos com o cenário verde e incrível da Universidade Federal de Alagoas, e com um ambiente feito em estúdio, na minha casa. Foi bem trabalhoso, mas acredito que o resultado tenha sido mais do que satisfatório. Ficamos bem felizes com ele! E por isso resolvi compartilhar com vocês. 
Então ai está o projeto Lavoura Arcaica. Quem sabe vocês estimulem para ler esse livro. 




Sinopse do Wikipédia: Lavoura Arcaica narra em primeira pessoa a história de André, que se rebela contra as tradições agrárias e patriarcais impostas por seu pai e foge para a cidade, onde espera encontrar uma vida diferente da que vivia na fazenda de sua família. Quando é encontrado em uma pensão suja em um vilarejo por seu irmão Pedro, passa a contar-lhe, de forma amarga, as razões de sua fuga e do conflito contra os valores paternos.
Sem ordem cronológica, André faz uma jornada sensível a sua infância, contrapondo os carinhos maternos e os ensinamentos quase punitivos do pai. Este valoriza acima de tudo o tempo, a paciência, a família e a terra, fiado na doutrina cristã. Mas André não aceita esses valores. Ele tem pressa, quer ser o profeta de sua própria história e viver com intensidade incompatível com a lentidão do crescimento das plantas. Nesse trajeto, a paixão incestuosa por sua irmã Ana, e sua rejeição, exercem papel fundamental na decisão de fugir da casa da família. A mãe desesperada manda o primogênito Pedro buscá-lo para tentar reconstruir a paz familiar. Trazido de volta para a fazenda, André é recebido por seu pai em uma longa conversa e uma festa que, ao invés de resolverem o conflito, evidenciam a distância intransponível entre as gerações. Por essa razão, a história é muitas vezes descrita como uma versão invertida da parábola do filho pródigo.

 A composição das fotos de André (Personagem principal do livro), queríamos que fosse uma coisa mais negra, mais sombria; como o próprio personagem aparenta ser. Trabalhamos mais com luz artificial e granulação nas edições. Tentamos captar a dor e solidão do personagem usando pouca luz; e a total degradação dele, pela granulação. 


O outro ponto de vista fotográfico, foi feito pelo ângulo de Ana (irmã do protagonista). Como é uma personagem só visada pelo olhar de André, e sempre como uma figura desejada e muitas vezes demoníaca por conta disso, colocamos ela em constante aproximação com a terra, que é uma coisa que André ama. Contamos com o sol de final de tarde e uma composição de cores na edição, que fossem mais vintage. 

Trecho do livro:
"Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul ou violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, quarto catedral, onde, nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiro os objetos do corpo; eu estava deitado no assoalho do meu quarto, numa velha pensão interiorana, quando meu irmão chegou pra me levar de volta...

Trecho do livro:
Na modorra das tardes vazias da fazenda,era num sítio,lá no bosque,que eu escapava aos olhos apreensivos da tua gula. Amainava a febre dos meus pés na terra úmida,cobria meu corpo de folhas e,deitada á sombra eu dormia na postura quieta de uma planta enferma,vergada ao peso de um botão vermelho. Não eram duendes aqueles troncos todos ao meu redor,velando em silêncio e cheios de paciência ao meu sono adulto? Que urnas tão antigas eram essas liberando as vozes protetoras que me chamavam na varanda?
Esse trecho é narrado por André, mas colocamos como uma ligação à Anna. 

Trecho do livro:

“O tempo, o tempo, o tempo e suas águas inflamáveis, esse rio largo que não cansa de correr, lento e sinuoso, ele próprio reconhecendo seus caminhos, recolhendo e filtrando de vária direção o caldo turvo dos afluentes e o sangue ruivo de outros canais para com eles construir a razão mística da história...”



Trecho do livro:
"estou banhado em fel, Ana, mas sei como enfrentar tua rejeição, já carrego no vento do temporal uma raiva perpétua, tenho o fôlego obstinado, tenho requintes de alquimista, sei como alterar o enxofre com a virtude das serpentes, e, na caldeira, sei como dar à fumaça  que sobe da borbulha a frieza da cerração das madrugadas; vou cultivar o meu olhar, plantar nele uma semente que não germina, será uma terra que não fecunda, um chão capaz de necrosar como as geadas as folhas das árvores...."


Trecho do livro:
 "...e quanto mais engrossam a casca, mais se torturam com o peso da carapaça, pensam que estão em segurança mas se consomem de medo, escondem-se dos outros sem saber que atrofiam os próprios olhos, fazem-se prisioneiros de si mesmos e nem sequer suspeitam, trazem na mão a chave mas se esquecem que ela abre, e, obsessivos, afligem-se com seus problemas pessoais sem chegar à cura..."


Trecho do livro:
"Era Ana, Pedro. Era Ana minha fome, minha enfermidade. Era Ana minha loucura, era o meu respiro. Era Ana a minha lâmina, era meu arrepio, meu sopro, meu assédio. Era eu o irmão acometido, era eu o irmão exasperado, era eu o irmão de cheiro virolento, era eu que tinha na pele a gosma de tantas lesmas, a baba derramada do demo".


Trecho do livro:
"Meu pai sempre dizia que o sofrimento melhora o homem, desenvolvendo seu espírito e aprimorando sua sensibilidade; ele dava a entender que quanto maior fosse a dor tanto ainda o sofrimento cumpria sua função mais nobre; ele parecia acreditar que a resistência de um homem era inesgotável. Do meu lado, aprendi bem cedo que é difícil determinar onde acaba nossa resistência, e também muito cedo aprendi a ver nela o traço mais forte do homem; mas eu achava que, se da corda de um alaúde - esticada até o limite - se podia tirar uma nota afinadíssima (supondo-se que não fosse mais que um arranhado melancólico e estridente) ninguém contudo conseguiria extrair nota alguma se a mesma fosse distendida até o rompimento" 

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Bom gente, conseguimos tirar cerca de 250 fotos entre as da representação de Ana, e as de André. Claro que fizemos uns cortes para poder enviar para vocês. Resolvi colocar 10, apenas. Algumas eu usarei no meu trabalho, e outras guardarei para usar posteriormente. 
O livro foi transformado em filme há alguns anos, para quem não gosta desse estilo de livro. Aqui vai um dos trechos que mais amo, tanto do filme, como do livro. 


 Mas acreditem, não tem coisa melhor do que ler esse livro. Ele é perfeito! 
E vocês, tem vontade de fazer um projeto fotográfico de que livro?