Resenha de "Através do Universo" (Beth Revis)





"Esse livro não te deixará dormir"

Sinopse:

Amy deixou para trás seus amigos, seu namorado, seu mundo inteiro para se juntar aos pais a bordo da nave espacial Godspeed. Para a longa viagem, ela e seus pais foram criogenicamente congelados, esperando enfim acordarem em um novo planeta: Terra-Centauri. Porém, cinquenta anos antes do previsto, a câmara criogênica de número 42 é misteriosamente desligada, e Amy se vê forçada a sair de seu profundo sono de gelo. Alguém havia tentado matá-la. Agora, Amy está presa em um novo – e pequeno – mundo, onde nada parece fazer sentido. Os 2312 passageiros a bordo de Godspeed são liderados pelo tirânico e assustador Eldest. Elder, seu rebelde sucessor, parece ao mesmo tempo fascinado por Amy e ansioso por descobrir nele mesmo tudo o que se espera de um líder. Amy quer desesperadamente confiar em Elder, mas será que ela deve colocar seu destino nas mãos de um garoto que jamais conhecera a vida fora daquelas frias paredes de metal? Tudo o que Amy sabe é que ela e Elder devem correr para desvendar os segredos mais ocultos de Godspeed, antes que o assassino tente matá-la novamente. (SKOOB)
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Peguei esse livro para ler às oito da noite, quatro da manhã eu tinha acabado e estava eufórica pela continuação. Tenho urgentemente que parar de ler livros em série!

Comprei Através do Universo porque fazia bastante tempo que eu não lia nada que fizesse referência a naves espaciais e confinamento galáctico. E não é que pensar nisso é um tanto contraditório! Como algo tão expansivo como o universo, pode nos trazer um sentimento de prisão?

É assim que Amy se sente em muitas partes do livro, e até o leitor se sente claustrofóbico em saber que para qualquer lugar da nave que se vá, ele terá um fim próximo.

Temos uma nave gigantesca, com várias pessoas em criogenia: cientistas e militares, que são a força tarefa para deixar adaptável um planeta novo que eles descobriram ter oxigênio. Nessa nave também viajam uma população que cresce e morre e tem filhos, como se fosse uma pequena versão da terra; essas serão as pessoas responsáveis pela povoação do novo planeta. Na nave está Amy, filha de um militar e de uma geneticista que estão a bordo para trabalhar no novo mundo.

Logo nas primeiras páginas, achei que morreria de tédio lendo o livro, principalmente se fosse algo cheio de romance. Enganada totalmente!

O que menos importa nesse livro é o romance. Ele é só um toque delicado, como uma pena passando de leve no seu pescoço inesperadamente. Através do universo é um livro repleto de mistério, e isso te prende do começo ao final dele. Acreditem... É tanta pergunta no ar, que esse livro não te deixará dormir.

Conhecemos Amy, uma das nossas protagonistas. Ela acorda 50 anos antes do esperado, em um lugar estranho, e completamente sozinha. Ela não é daquelas indefesas, pelo contrário, decidida e muito resistente. Adoro isso!! O outro é o Elder. Ele é o segundo no comando da nave. Um adolescente questionador e curioso que vai até o fim e bate de frente com qualquer pessoa pelo o que acredita, inclusive com o seu superior.

A trama da história se desenrola quando alguém, não se sabe quem, começa a descongelar as pessoas que estão na criogenia, e elas acabam morrendo. E em cima dessa trama, temos o funcionamento da nave em si. As pessoas parecem agir de modo estranho do que Amy esta acostumada, elas seguem padrões de comportamento e entram literalmente em período de cio, quando chega a Temporada de acasalamento. Nada parece se basear no racional nessa comunidade. E ela é a primeira pessoa que lhes mostra isso, até porque, todos os outros que estão acordados, nasceram e cresceram nesse esquema que já estavam associados a eles.

A autora construiu muito bem essa questão social da nave. Não encontrei um único furo nisso. E me lembrou, em muitos momentos de filosofia sobre a vida, nossos costumes e comportamentos; uma distopia.

Talvez a história tenha deixado a desejar sobre construção de personagem. Acho o Elder superficial, mas acredito que até isso seja resultado de uma sociedade linear no sentido comportamental. Ele só começa a ganhar vida, quando o Eldest – o primeiro no comando da nave- começa a se comportar estranhamente, deixando Elder curioso e desconfortável.

Amy aparece na vida deles como um raio. Causando estranheza nas pessoas, por ser muito diferente (fisicamente) da maioria, e por ter ideias que desafiam a linearidade deles.
Então temos: Dois mistérios (As mortes e o porquê das pessoas estarem se comportando dessa forma) Uma mocinha se sentindo sozinha. Um mocinho que é louco por ela. Uma nave no meio de nada e um enredo pra lá de bom!

O que mais me chamou atenção na história, foi realmente essa coisa do social, do quanto somos adaptáveis a um meio, e do quanto rebeldes e pensativos e poderosos somos quando pensamos por nós mesmos. Uma das causas da guerra tratada no livro, é o pensamento individual. Mas no final das contas, não é esse mesmo pensamento que rege artistas, cientistas e professores? Somos treinados na universidade a desabrochar esse pensamento, porque são eles que fazem a humanidade evoluir, mas são eles também que nos instigam a guerra.

Não dá para viver sem esse pensamento. Fato! Mas ainda não estamos acostumados a lidar com o poder que ele nos dá. E esse meus amigos, é o melhor desse livro.

Essa série promete MUITO! E espero desesperadamente, que a autora siga o padrão, nos outros livros, que teve nesse primeiro volume.  Bastante ansiosa!

Se você gosta de mistérios, confinamentos e comportamentos sociais estranhos, trate já de abrir esse livro! Ele te levará Através do Universo.

Quotes:

- Seus dedos tocam a pele levantada sobre o meu com-wi. Minha respiração se acelera. Ela está na minha frente, tentadoramente perto. Amy morde o lábio, e tudo que quero fazer é agarrá-la, esmagá-la contra mim, sentir seus lábios contra os meus. [página: 180]

- De qualquer maneira, eles são a diferença entre um planeta inteiro de pessoas vivendo e um planeta inteiro de pessoas morrendo. Eu não posso tirar isso deles. [página: 244]

- Não é assim. Deu-lhes uma história para alimentar seus filhos. É a maneira pela qual a esperança é transmitida. [página: 309]