Trecho de Terça


O Segredo de Eva (Adriana Vargas)


 
"Chris voltou para casa ainda chocado. Suas lágrimas caiam uma atrás da outra quando me viu. Abracei-o, mas ele não correspondeu. Estava trancado e mudo em sua dor. Sua voz não voltou, após o choque emocional, eu sabia que estaria ali, para o que der e vier. Passamos os dias, dormindo juntos, e para não causá-lo angústia, eu pedi que escrevesse 
 o que sentia, oferecendo-lhe um caderno e uma caneta. Suas mãos trêmulas, pegaram o que ofereci, e passou a escrever:
“Eu pensei que a AIDS matava muito mais rapidamente, me enganei. A estupidez e a falta de amor, mata, dilacera e acaba não somente com sua vítima, mas com todos à sua volta.”
Para lhe demonstrar apoio, naquele momento tão delicado, ao invés de dizer, o respondi, na mesma folha do caderno:
“Vamos nos amar e cuidar um do outro, como no pacto que fizemos para nos preservar de uma morte tão miserável... Eu estou do seu lado até o fim...”
Eu o abracei e me deitei com ele em meu peito. Ninando-o como se faz a um filho, um ser que precisa de amparo, de amor e proteção. Tudo se resumia apenas em uma palavra que jamais poderia copiar, ou inventar algo semelhante... esta palavra chama-se – amigo.
— Eu o entendo, mesmo quando suas palavras perderam a fala... Eu te amo Chris, muitas vezes, você substituiu o ventre de minha mãe e o abraço de um irmão, estou aqui, para retribuir.
Ser amigo é sentir o que isso significa - é o humano do ser."